Modernices
Neste dia tão comprido
Que ameaça chuvada
Estou ’a ’olhar para ontem
Desde as 3 da madrugada!
Não consigo dormir!
Raio de insónia danada,
Logo eu desgraçada,
Tão feliz e mimada,
Ando sempre preocupada…
É que nem durmo, nem nada!
Sou a Telma, empoderada
E sorte tenho presentemente
Pois,
Não há assédio,
Porque,
Não há gente.
No ‘home office’,
Não há certamente.
Já no escritório,
Não é bem assim.
Teletrabalho
Neste ‘workspace’ minimal
Num T0
Conceptual,
A um preço
Bestial,
27m2 a 760€ por mês
Fora as contas, condomínio
Lavandaria 3 vezes no mínimo!
É um dia, de cada vez
E não está nada mal!
Até porque é pouco usual,
Visto que é mesmo
Central,
Em plena
Capital,
O que não é nada
Normal,
Para o poder de compra
Real,
Que me resta ao
Final!
Antes de repetir outra vez,
Esta estória a cada mês.
Apesar que agora,
É forçoso,
Danado vírus asqueroso,
Empreender e ter gozo
Mas sempre à porta fechada!
À distância,
Recatada.
Sorte a minha, ainda bem
Que por mérito tenho morada,
Esta residência informal,
Longe do ninho fraterno
Que me permite algo moderno!
Usufruir longe de moitas,
Da libido e coisas frugais,
Uns miminhos,
Bestiais!
Hoje em dia,
Vou de casa para o ‘job’
Do ‘job’ para casa
Tudo debaixo de telha
Já nem me sinto uma ovelha!
Faço yoga, um ‘workout’,
Pós ‘workout’ entro no 'spa'
Mesmo ao pé do 'bidé'!
Refeita, sigo ao ‘pub’!
Que é também um ‘bistrô’
Onde só se entra de 'robe'
E sou eu que ‘administrô’!
Acedo à cultura num ‘click’
Só eu sei como ser ‘chic’
Porque a sós, sei ser tão ‘fancy’
Que nem sou de me gabar,
Mas…
Já sei namorar!
E à distância de um ‘swipe’
Se me sentir com desejo,
Logo após o Jantar,
Não cedo a um só bocejo,
Abro a porta a um estranho
Pois nua, nunca me acanho!
É que ficando sozinha,
Ai meu Deus… Sorte a
minha!
Vem logo alguém, a vizinha,
Pronta a dar a mãozinha!
Coabitar a almofada,
Para me sentir desejada!
Se isto não é genial
Então eu já não sei nada!
Isto é o novo normal,
Que também pode ser teu!
Para não ser ficção,
Há que se pagar caução
E
Seis rendas adiantadas,
Ter declaração preenchida
E
Liquidação, liquidada!
Tendo tudo isto conforme,
Mesmo sem nada em teu nome,
Já não te faltará nada…
Ou ‘quaise’ nada!
Só:
‘Details baby!’
Um fiador idóneo,
Um salário e
uma mesada.
E assim sim!
Já podes teletrabalhar,
A fim de te sustentares!
Podes ser como eu
Sem nada a
apoquentar!
É, ou não é, espetacular!
E é só mais …
O contrato com a operadora,
Uma máquina digitalizadora,
Um computador,
Impressora,
Telefone,
Comida ‘on demand’,
Trabalhar o físico
E se der…
Ter horas de sobra ao dispor,
Para fingir-me alegre no ‘ordenador’,
E nunca dizer que não, a nada!
(Pró sonho de ser aumentada)
Ser bonita
Verdadeira,
Torneada, avantajada,
Vestir bem,
Estar bem calçada
Com aquela ‘tilha’ arrojada
E se não for por mais nada,
Não sucumbir à evidência
D’uma existência lacrada,
À nossa geração adiada!
Ah, cabeça a minha,
Gentia, que me esquecia!
(Tontinha que às vezes sou)
Um pormenor,
Um nadinha!
Pra que nada desmorone,
E da vida não sejamos mirones,
Lembrar que para ter sucesso
Como mulheres no processo
Emancipatório, sem excessos
Devemos,
1-Não refletir,
2-Não dizer
3-Engolir
4-Não criticar,
5-Não insinuar
6-Não carpir
7-Não ofender
8-Não espiolhar
9-Não Foder
10-Não amar
11-Não querer
12-Resignar-mo-nos
E muito importante por último,
13-Nunca assumir a fachada
Em que fingimos ter acesso a tudo,
Na verdade não usufruindo de nada!
Ai que alegria,
Mas que sorte!
É tão bom ser-se jovem e forte,
Aos 40, novos 20,
Tão pura
Enxuta, apesar de madura,
A recauchutar a formusura,
Nesta selva, árida e dura!
Com o útero na tortura
Do empurra do ‘oligarcado’
A parir ao mundo um afilhado!
Vindo-me à mente a ladainha,
Que ouvi, era ainda mocinha;
“Quando é que te casas?
Já tens um berçário?
Para quando um sobrinho,
Era extraordinário!
Ou um primo, uma neta,
Um pintor, uma atleta,
Um doutor, ou a filha predileta
Que viverá tudo outra vez!”
Pelo menos supostamente,
Pois a ser tudo o
que eu não sou,
Terá tudo o que eu não tive,
E a não se tolher em amargura,
Inveja, por entre a
candura,
Estará sempre à altura
De ser a mulher que hoje sou,
Optando,não dar, o que eu dou!
Ai chega, chega,
Chega chega, desta bulha!
Minha cabeça rolará num tribunal!
Mas um só aviso, aos que habitam o cume!
Que herdaram a casa, como é de costume.
Casam na Sé e partilham o nome,
Confiam na fé, nunca ficam com fome!
Eu,
daqui do sopé,
Nota de rodapé,
Estoica e firme
À passagem do tempo,
Mantenho-me sólida,
Como um monumento!
E sem rancor,
Hei de ser sustento,
Aos vermes do tempo!
Não devendo nada,
Serei empregada
Numa vida asseada,
Que compense a nalgada,
De um chefe qualquer.
Pois ao que paguei,
De propina e de entrada,
Eu já fui burlada,
Devassada
e
Violada,
Mas não serei vencida,
Por uma qualquer!
Beijo miga!
Um dia de cada vez, Telma! Aguenta, melher...
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