Perplexo

A fome de me ter por perto. A carne trémula que se exercita no oficio de se tencionar. O corpo inteiro inerte, mas cheio de energia, uma energia que o lança no cansaço e o projecta numa dormência estranhamente revoltante.
A impávida relutância na tomada de atitude. Vontade de cair num abismo que não tenha fim, vontade de queda e de voo. Cair naquele chão duro que é no entanto mais suave do que a aspereza a que me condiciono agora.
As veias inchadas, tanto que a mão não se consegue mexer. O corpo que parece rebentar apesar de estar inanimado. Os olhos perdem o brilho, a cor, perdem-se… As palavras não saem sequer, só existe uma espécie de choro contido que apesar de não verter, me afoga!
Engulo em seco o ar húmido, cerro os meus punhos e procuro resistências em mim. Sentir-me sozinho na minha própria companhia é abominável. Vontade de me deitar na rua e ser só mais um, ser só mais um algo, um ser que ninguém vê e ninguém sente. Um desabrigado envergonhado de se sentir assim!

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