Cerebral!

Deliciam-se os ossos do sabor da carne! Envoltos por ela sentem-se protegidos. O sangue flui harmoniosamente, nada nem ninguém o detém! De ponta a ponta, de lés a lés, desse corpo ele flui, freneticamente e num modo que nos faz questionar se ele é mais necessário num qualquer outro lugar.
Os pulmões absorvem do mundo aquilo que é deles por direito, o ar! Sorvem-no com candura, como que tirando, colher a colher, cada partícula de ar que necessitam! Eles expandem-se, obrigam todos os outros órgãos a encontrar posição, mas dão espaço contraindo-se, sobejando muitíssimo espaço para todos.
A pele enruga-se, por vezes. Quando tudo está demasiadamente húmido, a pele encolhe-se, cria maleabilidade, fica mais fácil de manejar, derrete-se, engraçado que a frescura da água derreta a pele do homem, mas assim quis a natureza e sendo assim ninguém quer contrariar. A pele é tão sensível, que por vezes a mais fina folha de papel é o suficiente para a quebrar e a colocar num choro de sangue. É assim a pele, não sabemos nunca o que esperar dela! É ela que nos dá a sensibilidade para sentir o mais terno beijo apaixonado no pescoço que nos deixa assim, naquele estado, com aquela posição, com aquele olhar tolo que só o verdadeiro beijo apaixonado nos permite! É ela, a pele também que nos permite ás maiores dores possíveis e imaginárias, a dor de um estalo na cara, a dor de um soco no estômago…
O estômago, ele digere tudo o que ingerimos, tudo mesmo! A maior das dores a que nos sujeitamos, é deixada ao estômago, pesando nele a tarefa de a deglutir e esmiuçar, ao ponto de sorver dela apenas as proteínas obrigatórias, sugar dela, dessa dor que vem sabe-se lá de onde, as vitaminas necessárias para ir procurar algo bom, como amor. Amor é bom de digerir, principalmente quando é um amor que nos enche os pulmões de ar e os ossos de força para sustentar a carne que prende em si a pele que sente o beijo do verdadeiro amor!
O coração não para nunca! Mesmo morto, de cansaço, ele retém energias para continuar a bater, continuar a lutar! Ele não para nunca a sua missão, o seu trabalho nunca cessa. Em constante movimento ele fica ali, quieto! Nada o atinge, até que o estômago digere o amor e ele pode descansar um pouco, deixar-se a apreciar o resultado de amor de tal monta, de amor de tal tamanho. É quando tudo se revolve em torno do amor que o coração menos faz, pois a batida amorosa é sem esforço, o sangue quase se move por livre e espontânea vontade, não sendo necessário do coração grande trabalho. O coração fica só ali, parado no seu lugar privilegiado a assistir a tudo com um enorme sorriso nos lábio, se os tivesse…
O cérebro, ele ali fica, muito longe de tudo isto, constantemente analisando a possibilidade de tudo aquilo. Sempre conjecturando, vendo muito bem por onde pisa, com pena de que aqueles pés não sejam dele, com muita pena que nada surja por sua vontade, com pena que ele só sirva para manter registo, para ter saudades, para tudo o que é mau! O cérebro dedica-se apenas a coisas que não interessam na maior parte dos casos! O cérebro é o órgão menos interessante, é o menos edificante! É o que sente as coisas na medida que as analisa perdendo sempre muito do sentido! Ele paira ali algures, entre outros membros do corpo, sempre com uma aura de conhecimento, mas na mais pura das puras personificações de desconhecimento! Ele não sente nada, ele relativiza, ele constrói ideias, idealiza, pouco ou nada mais faz. Pena do cérebro que não sente amor, só o estuda! Pena do cérebro, o órgão mais triste!

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Sendo muito honesto, obrigadinhos!