O viver dos dias.





Impotência e pesar no momento de agir. O corpo pára porque assim se lhe exige nestas situações. As lágrimas velejam pelo rosto árido. Cada uma delas leva consigo uma memória. Memoria a memória, o interior vai-se despojando do que sentia por algo, por algo que já se perde na infinidade de pensamentos e emoções do momento referido.
É a vida, pensa o cérebro, sóbrio e frio nestas situações. É assim que tem que ser, continua ele em cogitações lúcidas e francas sobre o modo de actuar. Já o coração, vertente emocional e sensível, é agora uma espécie de oásis florescendo numa aridez de sentimentos. A fria lucidez cerebral, fruto de uma vida de racionalidade e lógica no “sentir”, é completamente apoderada por esse coração e molda-se, transforma-se e é desligada no fim de tudo… Só o coração, metáfora de lugar que não cabe na racionalidade cerebral, domina o “renascer”, só o coração imagina e pensa nas memórias, agora vãs, de dias que se foram e voltarão jamais.
É dura a dor dos sentidos, é muito dura, mas logo logo é relativizada essa dor, a lógia intromete-se sempre, que nem um exercito da salvação para o coração extenuado de tanto pensar no modus operandi correcto para este tipo de situações!
Esquecer, diz alguém lá no meio do burburinho, esquece! Sim, esquecer, fácil quando se trata do sitio onde deixamos as chaves de casa, parece que esse tipo de coisas é tão fácil de apagar do cérebro, por muito importante que seja sabermos o local onde guardamos a chave para o nosso apartamento. Já quando falamos de uma vivência, de uma espécie de partitura musical de uma experiência humana, aí o assunto complica-se para o acto de “esquecer”. Desisto prontamente do acto perene de esquecer…
É então que o coração, magoado e “maltrapilhado”, vem novamente em toda a sua força, irado, raivoso e vingativo, repleto de emoção rancorosa e pronto a atacar com todas as suas armas. Continua sem resultar, por mais ira, por mais vingança, nada o fará minorar o que se passou…
É aí que a conclusão se abeira do coração, uma outra vez, vive…
Que simples nos parece sempre a mais complexa das respostas! Viver. Continuar a mover esse corpo. Corpo esse calejado por mais um evento que o talha para o futuro. Viver...
Até parece que se solta uma pequena rizada do corpo ainda enxugado em lágrimas de diferentes memórias, que agora soam a falso…
Mas é, diz o coração em pleno espanto e delírio, viver, repete ele uma e outra e outra e ainda outra vez, viver…
Assim se conclui o seguinte:
Se tiveres algum problema, vive-o, logo logo chegarás a outro que te impelirá a viver mais um pouco e assim vais vivendo e vivendo ainda mais, até ao momento em que tens já uma vida que te sucederá pelo futuro vivido por outros que aí viverão.

Comentários

  1. é, querido Ricardo, a vida se move no presente.

    Belos textos por aqui. Vou pôr um link lá em Pindorama. Conheça também, se tiveres tempo, o outro blog, sobre as memórias afetivas, um olhar sobre a mulher:

    http://pthiago.blogspot.com

    abraços
    paco

    e vamos combinar outra incursão pela cidade.

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Sendo muito honesto, obrigadinhos!